Este é um texto, que achei muito interessante, ele nos leva a uma reflexão profunda... Não deixe de lê-lo...
O que pode criar um
monstro? O que leva um rapaz de 22 anos a estragar
a própria vida e a vida de outras duas jovens por... Nada? Será que
é índole? Talvez, a mídia? A influência da televisão?
A situação social da violência? Traumas? Raiva contida?
Deficiência social ou mental? Permissividade da sociedade? O
que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa
de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar
a polícia por mais de 100 horas e atirar em
duas pessoas inocentes? O rapaz deu a resposta: 'ela não quis falar comigo'. A garota disse não, não quero mais
falar com você.
E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não. Seu desejo era mais importante.
Não quero ser mais um
desses psicólogos de araque que infestam os
programas vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira
muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros
sem serem chamados.
Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo
todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único. Faltaram muitos outros nãos nessa história
toda.
Faltou um pai e uma mãe
dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19. Faltou uma outra
mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao
medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha. Faltou
outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco
de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já
tinha escapado com vida. Faltou à polícia dizer NÃO ao próprio
planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá. Faltou o
governo dizer NÃO ao
sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal sequestrador conversasse
e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que
o procuraram.
Simples assim. NÃO. Pelo jeito, a única
que disse não nessa
história foi punida com uma bala na cabeça.
O mundo está carente de
nãos. Vejo
que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças. Mulheres
ainda têm medo de dizer não aos maridos (e alguns maridos, temem dizer não às esposas). Pessoas têm
medo de dizer não aos amigos. Noras que
não conseguem dizer não às sogras.
Chefes que nãodizem não
aos subordinados. Gente que não consegue dizer não aos próprios
desejos. E assim são criados alguns
monstros. Talvez alguns não cheguem a sequestrar pessoas. Mas têm pequenos
surtos quando escutam um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do
professor, da namorada, do gerente do banco.
Essas pessoas acabam
crendo que abusar é normal. E é legal.
Os pais dizem, 'não posso traumatizar meu
filho'.
E não é raro eu ver alguns tomando tapas de bebês com 1 ou 2
anos. Outros gastam o que não
têm em brinquedos todos os dias e festas de aniversário faraônicas
para suas crias. Sem falar nos adolescentes. Hoje em dia, é difícil ouvir
alguém dizer:
Não, você
não pode bater no seu amiguinho.
Não, você não vai
assistir a uma novela feita para adultos.
Não,
você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei.
Não, você não vai
passar a madrugada na rua.
Não,
você não vai dirigir sem carteira de habilitação.
Não, você não vai
beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos.
Não, essas pessoas
não são companhias pra você.
Não,
hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é
lugar para você ficar.
Não, você não vai
faltar na escola sem estar doente.
Não, essa conversa
não é pra você se meter.
Não, com
isto você não vai brincar.
Não, hoje você está
de castigo e não vai brincar no parque.
Crianças e adolescentes
que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS crescem sem saber que o mundo não é só deles. E aí, no primeiro não que a vida dá (e a vida dá muitos) surtam. Usam drogas. Compram armas. Transam sem camisinha. Batem em professores. Furam o pneu do carro do chefe. Chutam mendigos e prostitutas na rua. E daí por diante. Não estou defendendo a
volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário. Acredito piamente
que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranquilo
e livre, conseguem perfeitamente entender uma sanção do pai ou da
mãe, um tapa, um castigo, um não. Intuem que o amor dos adultos pelas
crianças não é só prazer - é também responsabilidade. E quem ouve uns
nãos de vez em quando
também aprende a dizê-los quando é preciso. Acaba aprendendo que é
importante dizer não
a algumas pessoas que tentam abusar de nós de diversas maneiras, com
respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem. O não protege, ensina e prepara.
Por mais que seja
difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho
quando acredito que é hora - e tento respeitar também os nãos que recebo. Nem
sempre consigo, mas tento. Acredito que é aí que está a verdadeira
prova de amor. E é também aí que está a solução para a violência cada
vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.