quinta-feira, 3 de março de 2011

Incertezas de um amanhã!



Quando eu for bastante idosa, quando eu já for velha, meus cabelos se tornarem brancos e meu rosto se cobrir de rugas, você ainda me amará, como hoje?
Você ainda precisará de mim, querido?
Será que dormirá ainda nos meus braços e, ansioso, desejará ouvir minhas estórias (– as estórias que só eu sei contar) Ou não?
Você também estará velho, eu sei disso.
Será que ainda amarei você, como hoje?
Que ainda lhe direi meus versos e me orgulharei de você,como me orgulho agora?
Ou será que apenas nos suportaremos pelo que somos e pelo que fomos, quando seus cabelos já forem brancos?
Hoje, nós passeamos pelas tardes e tudo é verão.
Eu sou sua poeta preferida e tudo o que eu escrevo é você.
Como será quando já formos velhos?
Será que, de manhãzinha, desejarei passear com você, pelos jardins,e você me levará pelos seus braços, sorridente, com alegrias de hoje?
Ou não?
Talvez você se torne ranzinzo.
Talvez eu fique louca!

Quem sabe?

Como será quando formos velhos, querido?Hein?
Sempre que aos domingos, nós iremos à igreja, à tardinha.
Eu toda empoada, os cabelos alinhados e brancos, e um véu ainda mais branco na cabeça.
Eu irei toda importante ao seu lado, e toda a gente nos comentará.
Será mesmo assim quando já formos velhos?

Ou não?

Ou eu farei tricô e não desejarei sair de casa?
Você usará óculos?!
Eu apenas amarei minha biblioteca?!
Ou amaremos somente nossos filhos?!
Será que nossos filhos serão lindos?
Será que serão bons?
Nós olharemos, às vezes, nossos álbuns de retratos, e choraremos saudades do passado.
Será que minha dor ainda será sua dor?

Ou não?

O futuro é distante e não traz a certeza de nós dois, portanto, amemo-nos agora, querido, enquanto nosso amor é carne e osso, e espírito, na soma dos nossos sentidos; enquanto eu te amo e tu me amas, e tua pele é macia e morna, e tua alma branca é única no mundo.
Aumentemos o fogo de nossos beijos, hoje, querido.
Eu não sei como será mais tarde,
quando já formos velhos,
e nossos cabelos se tornarem brancos.

(São Luís, novembro de 1969, p.15-16)